Texto de Jorge LZ | Programa na ponta da agulha
Em um ano que já mostrou que não está aí para brincadeiras, perdemos uma das figuras mais importantes da música popular brasileira: Beth Carvalho. É impossível não sentir o baque. Temos muito a lamentar, pois perdemos não só uma grande cantora. Perdemos, antes de tudo, um ser humano exemplar, que revelou vários talentos e sempre teve uma postura digna em relação ao Brasil, defendendo sempre a cultura e a cidadania.
Minha pequena homenagem procura jogar luz em momento de sua carreira que não é muito conhecido. Trata-se de do disco “Muito na onda”, do Conjunto 3D. Antes de se tornar uma das principais vozes do samba, Beth Carvalho integrou a formação desse conjunto, um desdobramento do Trio 3D, do mestre Antônio Adolfo, que como se não bastasse seu indiscutível talento musical, ainda foi o responsável por “Feito em casa”, primeiro disco independente da música popular brasileira, que foi lançado em lançado, em 1977 (mas isso é outra história…).
O Trio 3D era formado por Antonio Adolfo, Catcho Pomar (depois substituído por Carlos Monjardim) e Nelson Castro. Nos dois discos lançados, “Tema 3D” (1964) e “Trio 3D convida” (1965), participaram ainda Dom Um Romão, Arísio Rabin e Claudio Roditi no primeiro, e Raul de Souza, Maciel, Paulo Moura, J. T. Meirelles e Eumir Deodato, no segundo.
Em 1967, Antonio Adolfo mudou o nome para Conjunto 3D e mudou a formação do grupo, que passaria a contar com Nelson Castro (único da formação original), Gusmão, Helio Delmiro, Rubens Bassini, Jorginho Arena, Eduardo Conde e… Beth Carvalho. Beth, que já tinha lançado dois anos antes um compacto com as músicas Namorinho (Mário de Castro e Athayde) e Por quem morreu de amor (Roberto Menescal e Roberto Bôscoli), arranjadas por Eumir Deodato, despontava como uma das promessas da época. Promessa que acabou se concretizando em 1968, quando defendeu Andança, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, no III Festival Internacional da Canção, em 1968.
Em “Muito na onda”, Beth mostra talento e desenvoltura em um repertório de bossa jazz, que mistura música brasileira e americana, de alguns jovens compositores, como o próprio Antonio Adolfo (Patruíra), Marcos e Paulo Sérgio Valle (É preciso cantar e Sonho de lugar) e Gilberto Gil e João Augusto (Roda); e outros já consagrados, entre eles, Cole Porter (I’ve got you under my skin e Night and Day) e Herbie Hancock e Jon Hendricks (Watermelon man).
O jornalista, ator e compositor, Sérgio Malta, escreveu um texto na contra capa do disco e refere-se à Beth da seguinte forma “… O conjunto 3D desta vez enriquecido pela presença de Beth Carvalho… Beth é aquela coisinha linda que vem se apresentando em algumas das principais emissoras de TV do Rio e São Paulo. Canta gostoso à beça…”
Pois é, Beth sempre cantou bonito e sua voz e sua presença seguirão conosco, pois seu legado é gigante. Nos dias de hoje, em que vemos a burrice tomar conta de boa parte da sociedade, precisamos mais do que nunca nos inspirar na força e no talento de Beth Carvalho para que dias melhores venham!
Salve, Beth!
Na ponta da agulha é um site parceiro do Kuruma’tá! Jorge LZ produz e apresenta o programa na Ponta da Agulha, na Rádio Graviola. Confira: napontadaagulha.ml