Texto de Toinho Castro
Era o ano de 2016 no Rio de janeiro e eu e Raquel, companheira de vida e sonhos, vadeávamos pela Tijuca numa tarde de domingo. Nosso para lá e para cá acabou por nos levar à Praça Saenz Peña, um dos corações do bairro, posto que a Tijuca tem muito corações batendo forte. E não é que estando ali demos com uma feira livre, iluminando ainda mais o domingo de sol.
A gente ama feira… é como um chamamento, no meio do urbano absoluto, das vidas do interior, da noção de comunidade que ainda persiste a despeito dos automóveis. Enveredamos então a investigar as barracas e não tardamos a perceber que aquilo ali era diferente. Tinha um ar, um jeito diferente do que normalmente vemos por aí. Numa das barracas estava uma amiga, a Flávia, que contou um pouco da feira, explicou que sim, era diferente, voltada para a produção independente, fora do circuito do comércio e do império cego do mercado. Havia roupa, arte, comida, encontros, conversa, bebidas e sorrisos espalhados em toda parte. Um encanto.
E o que mais nos chamou a atenção foi o nome da feira. Olha só pra isso… Feira Independente de Qualquer Coisa, ou FIQC!
Minha primeira reação foi querer estar ali. Acho que naquela tarde mesmo a Flávia nos apresentou a mente generosa, ou pelo menos um delas, por trás daquela ideia. Assim se deu o conhecimento com Rodrigo Chignall, que nos cativou de simpatia e explicou os comos, os quandos e as razões da FIQC. Atualmente quem está no leme dessa festa é Rodrigo Chignall, a Maiara (Mica) Nascimento e Leonardo Lucas (Léo). Como a feira é uma grande família, eles não esquecem do parceiro Naamã Lima, designer que começou tudo com eles.
Olhe, os dias que se sucederam foram de inventar algo para participar daquela feira. Isso mesmo, virar feirante. Dados às artes como somos, não foi difícil criar uma marca, realizar algumas ideias e armar nossa barraca. Mas como não é dessa experiência que quero falar, vou pular a história de Toinho e Raquel vendendo arte na FIQC para contar o mais importante, que é a feira propriamente dita!
Estamos em 2019 e a FIQC resiste bravamente às intempéries municipais e segue encantando a Saenz Peña!
Cada edição da FIQC, que acontece uma vez por mês, é formada exclusivamente por pequenos produtores. O mote é compre de quem produz, seja uma roupa, uma fotografia ou um hambúrguer. Outra faceta marcante da feira é o espaço dedicado às manifestações artísticas, posto que inicialmente a ideia da FIQC surgiu como criação de um evento de arte e cultura ocupando o espaço público, levando gente para a rua, ou para praça! E a gente sabe que, em geral, quando se fala de arte e cultura, a gente pensa em exposições, em museus, feiras literárias. Mas esses conceitos abrangem muito mais; nisso tudo estão as relações de troca social também, de compartilhar espaço, linguagem, gestual. Ouvir o outro, ver o que o outro produz e vivenciar experiências que transcendam a solidão cultural que, muitas vezes, as cidades nos impõem.
Por isso, Independente de Qualquer Coisa, é preciso encontrar, ocupar a rua e mostrar aquilo que somos capazes de fazer melhor.
As edições da FIQC são temáticas e passeiam pela cultura carioca mas também brasileira. A edição de carnaval, em fevereiro, reverenciou o frevo e a tradição pernambucana da festa de Momo. Coisa linda de se ver. E se você ficou curioso, prepare-se, que no dia 18 de agosto teremos na praça Saenz Peña mais uma edição dessa feira linda. O tema é nada mais nada menos que o Folclore, pois o dia do Folclore é 22 de agosto! Uma aposta linda na nossas tradições orais, nas histórias que povoam o imaginário brasileiro, desse Brasil de verdade que não cabe em definições superficiais. Um Brasil profundo, generoso e diverso, de muitas falas e olhares.
A FIQC busca, a cada edição, representar e espalhar essa cultura.
E agora fica esse convite pra você ir pra praça e compartilhar da diversidade que está aí, produzindo, criando, inventado! Como a turma da FIQC mesmo diz: Desejamos mostrar a todos que a cultura é um direito de cada um e que ela pode ser feita de forma coletiva e horizontal.
A Feira Independente de Qualquer Coisa mostra que a rua e sua dinâmica é cultura, que as trocas podem e devem se dar entre pessoas e que a economia pode ser criativa e cidadã.
Para saber mais sobre essa próxima edição da FIQC, confira o evento no Facebook.
Todas as imagens que ilustram esse texto são da Feira Independente de Quaquer Coisa. Visite o álbum de fotos da feira no Facebook.
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