Seu Castro Revista Kuruma'tá, 5 de abril de 20205 de abril de 2020 Texto e poema de Toinho Castro Ontem, 4 de abril, foi aniversário do meu pai, seu Antonio, ou seu Castro, que se vivo estivesse completaria 86 anos. Ainda estaria a contar suas histórias? Ainda sentiria, sentado na frente do nosso pequeno prédio olhando a rua, o peso enorme das distâncias até Imperatriz, Belém, Tucuruí? Exatamente ali, onde o vi tantas vezes fitar o arruado que levava até a Imbiribeira e à BR-101, exatamente ali começava o mundo pelo qual rodou por anos, sem saber como voltar. Sem saber para onde voltar. Cadê você, seu Castro?Em que BR Maranhão adentro,em que posto Nassau noturno,comendo agulha frita?Por onde vaga essasua alma conflituosaque desceu na terraem Sertânia,sem saber exatamentepra onde ir ou o que fazer,o que fazer de si?Era um vagantenesse mundoe por isso viveu errante,pelas estradas,que nas estradasera que se sentiaem casa. Já em casaera um estranho sem ninhoarremessado à poltronaà TV e à ordem que o larimpunha ao seu mundocaótico, disruptivo.Ao seu errar errático. Onde, seu Castro, a essa hora da noite,está você?De que telefoneligará para a cabineda TELPE naquele aeroportoque não mais existe? O que, em você,ainda resiste contra a morte?O que ainda lhe restadaquela noite em que conheceuminha mãe e ofereceu-lhe,num curioso gesto de encanto,uma lata de goiabada Peixe? Penso às vezes, numa noitecomo essaou varando uma estrada aberta:Não nos deixe, seu Castro.Não nos deixe. Ainda hoje pergunto-me de que destino, talvez terrível, desviou-lhe aquela lata de goiabada, na noite do Arruda, no Recife, enquanto armavam a feira para o dia seguinte. A AfetoMemóriaPaiPoesiaToinho Castro