Experiência Copacabana #3 Revista Kuruma'tá, 18 de abril de 202020 de abril de 2020 Texto de Experiência Copacabana Colagem e arte a partir de uma foto original do Copacabana Palace feita por Yusuke Kawasaki, sob licença Creative Commons Enquanto andava focado pelas ruas de Copacabana, com meu fone de ouvido ligado ao meu mp3 player chinês, e de mascará, percebi de repente que um sujeito branco, com a camisa da CBF, começou a andar do meu lado. Notei que ele dizia algo e então tirei o fone e aí pude perceber o que ele gritava. — Ei, comunista, você mesmo aí. Ei! Comuna! To falando com você. Tá com essa máscara por que? Heim, comunista? To falando com você. Tentei ignora-lo e apertei o passo. Ele repetia sem parar a pergunta. Me chamando de comunista, falando que eu era manipulado pela Globo Lixo e queria porque queria saber o motivo d’eu estar de mascará. De repente ele no bote, correu atrás de mim. —Ei maluco, sai fora – gritei.—Seu comunista, por que você tá de mascara, porra?! —Dizia ele vindo em minha direção e agora tentando tirar a minha mascará. Tentei segurar o maluco e foi nessa hora que ele mordeu a minha mão. Aí eu empurrei o cara acho que ele bateu a cabeça no chão, sei lá, não fiquei pra ver, Sai correndo para casa para lavar minha mão ou quem sabe até amputa-la. Chegando em casa lavei minha mão como se um cão raivoso tivesse me mordido. Liguei pro meu médico para saber o que fazer e enquanto falava, do nada fui me irritando com todo aquele papo sobre ciência que ele tava defecando no meu ouvido e desliguei na cara dele. A luz começou a me incomodar e botei um óculos escuro dentro de casa mesmo. Fui ver um pouco de TV, para vê se eu relaxava e me peguei falando sozinho como se estivesse sendo ouvido pelo ancora do jornal. Esbravejando sentado na minha poltrona que tudo que ele dizia era mentira e que tava todo mundo manipulado. Nessa hora, comecei a ficar tonto e fraco e foi aí que tive a ideia de pedir da farmácia várias caixas de Hidroxicloroquina. Quando chegou e abri todas as cartelas e amacei até virar pó e comecei a dar vários tecos de cloroquina, bebendo gin tônica e ouvindo Roupa Nova. Acordei na maior ressaca e olhei para o ferimento na minha mão e ele estava totalmente cicatrizado. Passei a mão no meu nariz e ele estava enorme, precisei das duas mãos para envolver ele inteiro. Corri para o banheiro, e foi aí que eu notei que não era mais meu rosto no reflexo do espelho. Eu estava com cara do Luciano Huck. Dei um grito de negação que pode ser ouvido a um quilômetro e foi nessa hora que, tomado pela ressaca e pela loucura de ver aquela imagem no espelho, sem pensar, ao som de Roupa Nova, eu cortei com uma navalha meu nariz fora, igual quando Van Gogh cortou a orelha ou quando Silvio cortou seu próprio membro em Engraçadinha. E foi aí que eu acordei. Com o coração acelerado e tão suado que eu tive que por toda roupa de cama para bater. Não me lembro de já ter tido um pesadelo tão assustador. Preciso parar de comer pesado nessa quarentena. Como não consegui decifrar o meu sonho logo de cara eu resolvi não arriscar de ir na rua aquele dia e talvez nem nos próximos. Mais tarde, dando uma navegada na internet, eu ouvi o boato de que os sonhos de geral estão rolando de forma mais intensa e confusa nessa quarenta. O que será que o mundo onírico está querendo nos dizer? Vamos aguardar. Ficar em casa na quarentena é muito diferente de ficar em casa porque você escolheu não sair. Também sair pra onde, filho? Beber com o gado aqui nos bares em Copa? Prefiro realmente cortar uma parte do meu corpo fora. Resolvi jogar um pouco de videogame. To jogando um daqueles RPGs gigantes que precisa de sei lá quantas horas para terminar e to sem pressa nenhuma também, fazendo todas as missões e sub missões e procurando todos os bauzinhos. E sem olhar na internet como resolve as paradas. Jogando roots. Aí para ocupar a cabeça resolvi catar um projeto que eu larguei pela metade e retomar ele no facebook. Não é sobre Copacabana, mas as vezes até se passa em Copa, mas é sobre viagem no tempo e também histórias curtas variadas que envolvem elementos sobrenaturais e da cultura pop. Vai nesse link aqui depois Efeito Libélula e Outras Histórias que vou começar a postar lá regular. Já tem uns para ler lá. Eu quero me divertir escrevendo e divertir as pessoas com uma parada escapista e não ficar falando de quarentena e Covid-17, ops, quer dizer, Covid-19 eternamente. Que infelizmente se tornou o único assunto. A ContoCopacabanaCrônicaExperiência CopacabanaPesadeloQuarentenaRio de JaneiroSonhos
Que doideira, a princípio achei que realmente tinha havido a abordagem, pois as ruas estão abarrotadas de malucos, depois achei que era uma história que alguém havia lhe passado, ou um desabafo delirante, no auge da quarenta pandemica, em seguida é que vi que se tratava de um pesadelo, com momentos tensos mas tem momentos hilários, muito legal. Show. Responder