Para os que ainda estão em casa

Texto de Eduardo Frota


Rooms by the Sea, 1951, por Edward Hopper

Da varanda, os versos ainda andam à espreita. Eis o que o escritor, à espera, observou sentado em seu trono – uma cadeira barata com armação de alumínio estrategicamente posicionada para que a correnteza não tornasse turva a vista que se desnudava diante de seus olhos.

I
(“A sunday kind of love” – Etta James)

O sol nasce todo o dia a leste. Os primeiros raios chegam. Não cegam. O sol se põe todo dia a oeste, mas para pintar o firmamento ele usa paletas de cores distintas, distantes.

II
(“Everytime we say goodbye” – Ella Fitzgerald”)

O limite entre o céu e o mar é de um azul calmo, tranquilo. Ainda que as ondas quebrem com intensidade, de longe parecem algodão-doce. Um dulçor branco, puro. As ondas, por maiores que sejam, elas sabem que são oceano.

III
(“Blue moon” – Billie Holiday)

À noite, as luzes dos prédios parecem vaga-lumes, pontos luzidios. Substituem as estrelas, pontas fugidias. Não havia percebido que elas são coloridas.