Sonhei com um mar que não era azul

Texto de Eduardo Frota


Eu tive um sonho noite passada. Era uma praia de águas esverdeadas. Quase deserta, como se fosse baixa temporada. Permanecia imóvel na faixa de areia, debaixo de um sol inclemente, observando as ondas se avolumando para além da arrebentação. Lá no fundo, havia uma pessoa. Não, não era possível ver o seu rosto. Mas eu sabia quem ela era, certamente.

De repente, em mim levantou-se a necessidade de ir até lá e trazê-la à terra firme novamente. Não, ela não pedia por socorro. Mesmo que eu não pudesse ver o seu semblante, sabia que não estava desesperada. Ela não corria o risco de se afogar, ou qualquer outro desastre. Ainda assim, era um resgate.

Entrei na água gelada e comecei a empreender intensas braçadas para vencer as ondas que agora ameaçavam quebrar diante do meu rosto. No entanto, era difícil sair do lugar. Sentia a boca salgada. Usava meu corpo inteiro para tentar chegar mais perto dela, mas pouco me movia. A água começava a se assemelhar a areia-movediça.

Em determinado momento, fiquei completamente desorientado. Havia perdido ela de vista e, olhando para trás, não mais avistava a praia de onde tinha vindo. Era tudo um mar verde que só, tranquilo e imenso. Eu, no entanto, inquieto e pequeno. Percebi que meus pés não alcançavam o fundo. Percebi também que a minha respiração começava a ficar curta. Meus braços, cada vez mais curtos.

– A correnteza puxa – dizia uma placa.

– Logo eu, que nadava tão bem quando era criança – pensei.

Fui acordado quando uma onda, daquelas que se avolumavam, teimou em se quebrar sobre a minha cabeça, me deixando embrulhado, sem saber o que fazer. 

Levantei exaurido, encharcado.

Meus pés, estranhamente, formigando. Como se estivessem sujos de areia.


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