“Olha pro céu, meu amor…”

Texto de Toinho Castro


Com a chegada de junho se inicia o Ciclo Junino, independente de pandemia e quarentena. Hoje, 1º de junho, o mundo muda e se converte num vórtex, em que convergem Santo Antonio, São João e São Pedro. As grandes festas de rua estão canceladas, mas a festa interior é incontida. A festa interior ela acontece quando chega junho, sobretudo entre os nordestinos desse país. É uma coisa inscrita na pedra dos afetos, ou na madeira que queima nas fogueiras. Na sua palestra São João no Nordeste, realizada no dia 19 de junho de 1952, no Rotary Clube, o poeta Mauro Mota nos conta que São João e o Natal constituem, do Ceará a Alagoas, as grandes etapas do calendário popular. Não existem, na referências orais, Junho ou Dezembro. Existem o mês de São João e o mês de Natal. Tudo é feito para êles e em função dêles. As economias, a roupa nova, a venda e a compra de bichos, a casa, os noivados, os casamentos e até os filhos. Essa fala, recolhida de uma plaquete editada pela Editora Nordeste, no mesmo ano de 1952. com o registro completo da palestra na sede do Rotary, no Recife. Ali, Mauro Mota já fala do São João com nostalgia…

E então sentimos que a fogueira apagou há muito tempo. E que, no lugar dela, só existem cinzas. As cinzas da lenha e as cinzas do nosso do encantamento.


Pois vamos revirar as cinzas do encantamento e declarar abertas as festas de junho. De dentro da quarentena que nos impomos por respeito ao próximo, limpemos o arraial dentro da gente pra acolher as músicas, as comidas, as tradições e as histórias. Cabe muito nesse terreiro, nesse chão batido sob a noite estrelada que canta o mestre Luiz Gonzaga em Olha pro céu. Façamos um junho de encontros, ainda que virtuais, via Zoom, via Instagram, Youtube, o que seja… que toda essa tralha tecnológica esteja a serviço do encantamento junino e da troca de afetos, a serviço da memória da nossa gente, que cada um carrega um pouco, ou muito, dentro de si. Recentemente, revirando velhos negativos fotográficos, encontrei os registros de uma festa de São João que aconteceu no Recife, num certo fevereiro que se perdeu na cronologia. Sim, era fevereiro, era carnaval, mas com que saudade danada a gente do São João! E aí armamos a festa, arrumamos fogueira e fogos, sabe-se lá de onde, e iluminamos a noite e houve quadrilha e baião. Porque não importa quando, onde ou o que seja, o São João está somente esperando que alguém o acenda.


Com esse espírito a Kuruma’tá não se deixará render pela pandemia e amanhã, com um AoVivo especial no nosso Instagram, a gente acende a fogueira de São João com o cantor e compositor Escurinho, num bate-papo musical com Aderaldo Luciano. E esse será o primeiro de uma série de encontros que vamos promover ao longo do mês, com diversos artistas.

Agenda Ao Vivo Kuruma’tá para o São João

Dia 4 de junho
Ana Carinhanha

Dia 11 de Junho
Leo Rugero

Dia 18 de Junho
Vitória do Pife

Dia 25 de junho
Rejane Ribeiro

Dia 30 de junho
Isabel Nascimento

Então venha com a gente, seja nosso par nessa quadrilha. Venha simbora ao som dessa música enraizada nos milharais, na taipa das casas enquanto estendemos de poste a poste o cordel de lâmpadas e bandeirinhas e ensaiamos os passos da dança. Tá sentindo esse cheiro no ar? Sera a vizinha mexendo a canjica? Ruído do fogo crepitando, as faíscas subindo no ar quente que nem balões. Sejam bem-vindxs ap Reino de Sao João

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