A quarentena impõe um universo mínimo, feito de sinais do mundo exterior, mas mediado por uma interioridade que se vai descobrindo, percebendo. A quarentena é essa explosão pra dentro, que nos espreme e nos implode para um centro comum. E o horizonte de eventos que se contempla, só mesmo a poesia para traduzir.
Poema de Toinho Castro
Aqui dentro
do universo diz-se
que expandirá
lentamente
para finalmente
contrair-se
ao ponto zero
de um big bang
novamente
parece pois
que expandiu-se
mundo além
e também
contraiu-se
até minha soleira
devorando a rua
inteira
o que se sabe é
que dessa porta
não se passa
A vista se esgarça
ao olhar-se da janela
e o que se vê
é dentro de si
a ardente sarça
neste mundo contraído
que se impõe, flui
o tempo
muito lento
resume-se
aquilo que somos
tudo que temos
ao que temos
e somos
aqui dentro