A Lua sobre nós

Texto de Toinho Castro


Primeira foto da lua, em 1840, por John Draper

A Lua é mais antiga que a terra, está nos registros mentais mais baixos e inacessíveis. Sonhei com isso, com essa informação. A Lua foi o veículo que nos trouxe até aqui, que nos protegeu no percurso mais difícil da nossa migração. Era verde, rica e foi abandonada. Agora está latente, aguardando os sinais, a movimentação da civilização no sentido de abandonar mais um planeta.

Aportaremos então nos seus vastos campos e rumaremos para o interior, onde descansam as grandes máquinas e os alvéolos semi-transparentes, onde seremos decompostos ao mínimo necessário para empreender uma nova viagem. Todos nós sabemos, no núcleo de alguma consciência que temos, que é assim. Que tem sido assim. Está previsto recomeçar do zero em algum outro mundo. O passo a passo da evolução reencenado por nós, os mais antigos viajantes do cosmos. É um processo contínuo, que está em andamento exatamente agora e algo em nós, perdido em nós, para que não o encontremos, o controla. Posso sentir isso agora, vibrando levemente sob meus olhos fechados. Você não sente porque sentir isso que está acontecendo comigo é um acidente, previsto em matemáticas muito antigas, mas que ainda vamos descobrir.

Agora eu sei e tenho essa memória de gerações de nós, vivendo em mundos diversos, distantes no tempo e devastados, deixados para trás. O longo caminho da nossa civilização, do silencioso vácuo percorrido. Sei agora que não somos terráqueos e a lua é o nosso transporte. Tantas teorias para explicar sua origem e nenhuma que se encaixa, nenhuma que explica. Fomos até lá nos nossos foguetes toscos, enchemos um saco de pedras e voltamos. E nunca mais quisemos retornar. O que os astronautas descobriram que não quiseram nos contar? Talvez meus sonhos e presságios sejam conseqüências desses vôos. Algo iluminou-se, de alguma forma, em alguém.

Eugene Cernan foi o último homem a pisar na lua. Imagino sempre ele contemplando aquela paisagem árida, o céu escuro, a terra distante e uma voz interior que lhe dizia: Vá embora daqui. Ainda é cedo. Eugene esqueceu, certamente, essa voz, como esqueceu o peso enorme sobre os ombro, desafiando a falta de gravidade. Sei que visitaremos a lua ainda outras vezes, sempre em busca de explicações, antes que despertemos todos e sigamos em busca de um novo lugar para nós no grande vazio entre os mundos.

A terra é o décimo quinto planeta que colonizamos, num processo longo e complexo que implica em começar tudo outra vez em cada novo mundo. É assim que temos sobrevivido e destruído uns aos outros. Agora eu sei… sou uma testemunha, um louco.

Vou até a rua e olho a lua. Eu deveria uivar pra ela, como os lobos. É possível que os lobos sejam um sistema, uma conexão, alimentando a lua com dados a cada uivo, dados que os computadores no centro da lua elaboram para colocar em movimento o que quer que precise estar funcionando quando chegar o dia último, em que partiremos mais uma vez.


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