— O que será de nós? O que será? Revista Kuruma'tá, 5 de novembro de 202011 de março de 2021 Concedo hoje a liberdade de publicar na Kuruma’tá uma pequena seleção de poemas escritos pela minha mãe, Lenira Castro. Não por nada… é que ontem ela me perguntou o que era preciso fazer para publicar uns poema na revista. Que singeleza de pergunta! Tenho aqui comigo os poemas, nos cadernos em que ela os escreveu. Fico feliz em publicá-los, pensando na riqueza enorme e anônima da poesia do Nordeste, em que cada família tem pelo menos um poeta. Os poemas aqui reunidos foram publicados em 1996, no livro Folhas esparsas, do poeta potiguar Wellington de Campos Leiros, meu tio, casado com a irmão da minha mãe, minha tia Bita. Porque poesia é coisa de família, geração após geração. Ao publicar seus próprios poemas, Wellington, generosamente abriu espaço nas suas folhas esparsas para a produção de poetas amigos, incluindo aí os versos de dona Lenira! Toinho Castro, editor da Kuruma’tá! Poemas de Lenira Castro O que foi feito? O que foi feito amor, do nosso amor?Do teu olhar no meu a perguntar:— O que será de nós? O que será? O que foi feito amor, das nossas mãos,que se apertavam, como se estivessemna hora triste de uma despedida? O que foi feito , amor, de tanto amor,que arrebentou me ser, me esmagou…e que morreu, levando minha vida? Desencontro Pela estrada da vidafui um diaEm busca da ilusãode um amorBraços abertosrisos de alegriano coração ternura, fé, calor …e te encontreisozinho caminhavascomo ma folhade outonoSolta ao ventoSó o desejo de amaralimentavas Me encontrasteNos encontramosNossos sonhos unimos num abraçoNossas vidasse confundemnos amamos Mas pela longa estradanos perdemosAlgo cruel partiu nossos abraçose o nosso amor caiucomo uma chuvae aos nossos pés morreufeito em pedaços Mágoa Eu fiquei só, cercada de saudade…Sem ti a vidaterminou p’ra mim.Parti pra longe, pra outra cidade,por uma estrada que não vejo o fim.Se tu soubessescomo sofri tanto…A tua ausênciame desesperou.Diante de um abismo me encontrosozinha,com a lembrançaque ficou.Do teu sorriso que me encantava;do teu olhar moreno, tão tristonho;do sonho louco que por ti sonhei,tudo passou. Se foi tal qual o vento.Só ficou em minh’alma esta saudade,esta dor, esta mágoa, este tormento. Esses meus versos… Esses versos que façosem saber,sem querer…Por que? Não sei dizer.Sei que os faço…e que, hoje, são meus…só meus. Se, mais tarde forem lidos, recitados, ou em páginas de livros, editados,quero que saibas que já foram teus. A AfetoLenira CastroMemóriaNatalPoesiaRio Grande do Norte