Porque todos os malditos algoritmos levam à mesma descoberta Revista Kuruma'tá, 16 de dezembro de 202031 de dezembro de 2020 Texto de Eduardo Frota “Todos os seres são infelizes, mas quantos o sabem?”(Emil Cioran) Mãe, eu descobri algo e agora sinto que preciso contar a você: eu estou triste. Como o dia em que me deixaram na escola, viraram as costas e foram embora. Eu sou triste – e me culpava quando não conseguia rir dos amigos que, na tentativa de me alegrar, me contavam piada. Incontáveis vezes olhei para o espelho, não encontrei meu reflexo e, infeliz, chorei. Como? Nem sei, mas escrevi uma epístola para uma moça que morava muito perto, esperei o carteiro e não obtive resposta – triste e apagado, tipo um remetente inexistente que fica no passado. Passei fins de tarde melancólicos no meu quarto ouvindo rock, mas era um rock desses cheios de acordes menores. Tristonho, acordei com formiga na cama para perceber que toda aquela história de viver a vida em plenitude era só um sonho. Eu experimentei seguidas vezes a triste impotência diante das escolhas do destino quando a gente deixa que ele nos guie feito um cão-sem-dono no escuro. Que pena eu tive, mãe, quando pulei sete ondas, molhei as pernas e meu ano foi uma merda. Que medo, mãe, quando não consegui dizer de forma clara e distendida o que meu coração sentia. Mas hoje é, sem dúvida, o dia mais feliz da minha vida: descobri que posso ser triste, mãe. A Eduardo FrotaLeituraLiteraturaProsa poética