+ um poema de Milena Martins Moura Revista Kuruma'tá, 5 de abril de 20215 de abril de 2021 é um sol diferenteo de quase abrilé um sol que só existe em quase abril um sol fraco e meio frioque envelhece as coisas todas onde debruça com ele corro aos cinco anos com medo do cão da vóque só queria carinhoe ralo de novo o joelho e crio de novo ferida com ele estou vestida para festas pobres de escolacom guaraná em copo plásticoe salgados friosdançando quadrilha com outra meninaporque somos sobras ele é frango assado com batata no domingoe fofoca de tia plantas mortas da tia morta na casa derrubada é um sol antigocom luz de passadoenvelhecendo os olhos todos que o encontram dessabidos como a luz de toda estrelaa desse sol também é morta assim o cão e as plantas e as tiase os doces de cosminhoe os raios de tijolo espantando as nuvens mortos como sonhar com dente ao sol aponto o dedo sem criar verrugasque são nada além de foco morto a esse solde quase abrilresto do que não é maiscancro arcaico nas lembranças em que os mortos eram vivos MILENA MARTINS MOURA é mestre em literatura brasileira e tradutora. É autora dos livros Promessa Vazia (2011), Os Oráculos dos meus Óculos (2014) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021, no prelo). Integra a equipe de poetas do portal Fazia Poesia. Publica suas produções em diversas esferas artísticas no Instagram @oraculos_dos_oculos. A Poesia