O labirinto de W. J. Solha

Por Toinho Castro


Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.

— Clarice Lispector


1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite, novo livro do poeta/escritor, cordelista, ator e artista plástico Waldemar José Solha, ou W. J. Solha, é um labirinto em que a gente deve procurar a entrada, não a saída. E essa busca só tem um caminho, a leitura. O livro é um longo poema, e eu sei que colocar as palavras livro, longo e poema numa mesma frase pode afastar as pessoas. Pois se aprocheguem! Do livro, tenho lido sobre sua complexidade, da dificuldade de entendê-lo em seu todo ou mesmo em parte. Parem com isso. No longo poema de Solha há muitos planos de entendimento e ninguém precisa participar de todos, muito menos o tempo todo.

Cito Lispector, que todo mundo é fã, para tirar da mesa a carta do entendimento, da compreensão. As pessoas emocionam-se com uma bela música instrumental, com Bach ou (John) Coltrane, prescindindo de palavras. Entendem aquilo num nível que dispensa o discurso verbal. Não sugiro que a poesia de Solha seja musical, embora o seja. Mas que você pode dar conta dela sem essa pressa de saber o que ele quer dizer.

Suas páginas são como uma janela aberta com o mundo passando. Sentado na cabine do trem, olhando a paisagem através do vidro, quem está em movimento? Você ou o mundo? Em 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite, quinto volume de seis tratados poético-filosóficos perpetrados pelo poeta (falta um ainda ser escrito), alinha registros, referências, da cultura clássica à cultura pop. A Bíblia em sua narrativa intensa, Shakespeare, Guimarães Rosa, Super-Homem, os césares… caleidoscópico, hipnotizante e bem humorado. Alterna lirismo, ironia, melancolia e surpresa.

Faz parecer que estamos num boteco, numa conversa animada entre velhos companheiros. Conversa que abarca a diversidade do mundo, de largos gestos e risos enquanto cai a noite imensa.

O livro de Solha, nascido em Sorocaba e radicado em João Pessoa, é mesmo esse labirinto, de pontes e desvãos, um jardim de veredas que se bifurcam, nas páginas, em nós, nos dias que se sucedem, adiante e também para trás, porque é, como no conto de Borges, um labirinto no tempo. Vida descortinada, de sobreposições e entroncamentos, vida de palavras e ideias. Que encanta, arrepia, aperreia, movimenta e, sobretudo, espanta.

W. J. Solha