Poema interiorano e outros poemas, de André Siqueira Revista Kuruma'tá, 19 de dezembro de 202119 de dezembro de 2021 Eis a sempre bem-vinda poesia que nos chega pelo inbox, pelos ventos digitais. É a Kuruma’tá ecoando seu espaço aberto por aí, nas cidades e mentes Brasil adentro. O poeta André Siqueira, de Jacareí nos oferta generosamente cinco poemas de sua lavra e é com esses versos que começamos a semana Kuruma’tá, que é, essencialmente, uma casa de poesia. Seja bem-vindo, André. A gente agradece a chuva poética que goteja nossos beirais! o silêncio quebrado apenas pelo pernilongo da casamata o tempo das horas moucas Poema interiorano chove como sempre escreveram nos livros e canções amigasdistantes estamos contando os casos enquanto calangos correm na aridez do concreto fico sentado, vejo o verde aos borbotões entre a folhagem verde suculento que enverga uma saudação japonesa apanhando da gota estúpida ouvi melhor o meu quintal o mato tomando terreno roça a gotícula infinita restante que desce da telha cerâmica Vila Martins ligo as telas tão antenadas e transmitem a morte longa percebo o quintal e sorrioo sorriso do filho, cantao galo morador ilustre do bairro, a dona mora ali a tarde anila a calcedônia pelos ares duros do adeus levanto, saúdo o passeiopela casa trancada em pontosem final que desce da telha cerâmica Vila Martins chove como sempre escreveram o pingo bate, fere a folhaque recurvada reza e vela vidas lembradas sobre a tarde uma gota insiste na telhacerâmica Vila Martins (Sem título) chuviscou nos telhados simples as gotas dançavam dulcíssimas trespassando os pedestres rápidos indo e voltando pelo asfalto empoçado numa renúncia de quem cansou de tanta genteque passa e não percebe os cacos de esmeraldas nos velhos ombros dos muros plantados nas terras abertas pelas mãos passadas silentes no canto da casaerguida no solo tocado chuviscou nos telhados simplesas gotas acertavam comobarcos de papel naufragando no mar de imagens chuviscadas (Sem título) o silêncio quebrado apenas pelo pernilongo da casamata o tempo das horas moucas horas corredoras da noite enquanto na parede o dono é o relógio cafona comoa minha cara malpassada nos ponteiros do meu relógio sedento e sisudo conduz a bocarra que enruga e cospe os detritos vãos da memória Fendido Aqui começo a ter as fendasna cara pobre. Bocejar sussurração dos que começam a caminhada relutante. Exercitar o vazamento.Preguiça tosca serpenteia sem condução que tudo para,qualquer momento, vaporoso. O carcomido borrifar de limo velho avarandado da pele, carne cimentada.E me confundo nesses móveis empanturrados. Empenado dentro da pena sem escrita. Pincelo a casca leporina,matamatá consome a margemimersa. Limpo a tensa calha tolhida e gasta no apagão encouraçado na água cinza. Encalacrado o caminhante numa travessa corre ilhado.Finjo mudez atrás da máscara.Aqui começo a ser as fendas. O cabide O cabide quaseterno de precisas curvas e despidas,na ausência do ternomostra o figurino vazado, vazio de nada. Percebo na estranheza tão guardada que posso,atento, vestir a roupa de magravista do cabide discreto, guardado,dispensado só. André Siqueira é poeta e mora em Jacareí, interior de São Paulo e publiciu em 2020 seu primeiro livro de poesia por uma editora, intitulado As Manhãs Fechadas (editora Gataria). Tenho poemas publicados nas revistas Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Subversa, entre outras. Atualmente sou colaborador da revista de literatura Pixé. A LeituraLiteraturaPoesia