pintura do passado
pinto brutalmente um retrato do passado
( sem nenhuma pretensão)
sinto-me enclausurado
E tudo que já retratei
sinto estar despedaçado –
Não trago mais no coração
do que aquilo pelo qual fui cativado ;
E de tudo isso que amei
sei que um dia deixará de ser lembrado …
Infeliz aquele que se vê
Numa pintura feita do passado.
afrescos
Tudo que me dói
vem do íntimo do
In finito
as coisas que não terminam
mímeses falíveis do destino
Dores diluídas em
Instantes indecifráveis
Momentos errôneos, dos quais
não há retorno para a glória
tampouco escape do sofrimento
Assim, tudo que tenho são afrescos
Enfeitando uma existência de influência duvidosa
Aparentes na superfície enganosa
e de tão falsa, talvez bela
;
Detalhes esplêndidos
princípios primordiais.
Passeio contigo
Pela casa das coisas antigas
e vejo tudo que um dia funcionou
O rádio que não toca
As roupas colocadas no cabide pela última vez
As joias expostas em vitrais
se até as coisas úteis envelhecem
Quem sou eu pra vencer na vida?
Lembro-me de quem fui um dia
fragmentos recortados do passado
de sentir as coisas de outra maneira
de usar uma coisa útil que jamais envelheceria
Erguer bandeiras em prol de
Uma idéia fixa do mundo
de que não importava o resto
O passado é um lugar distante e solitário que volto sempre
Uma coisa útil envelhecida
Onde leio os livros tentando encontrar
rememorando alguém que viveu
E morreu
No mesmo solo
O mesmo tempo comum
A Mesma água correndo no corpo
Os olhos abertos
Enxergando o mundo
Apostar em ideias
Inexistentes
Trabalhoso esforço esquizofrênico
Frente a um combate ilusório
Atravesso todo o relevo
E percebo a paz atormentada que há na desistência
Às vezes prefiro as outras coisas do mundo
Só às vezes
Quando não tenho graça.
chuva ácida
Penso nas coisas como
Passageiras.
Como idéias que existem
e podem morrer a qualquer instante.
Como rios voadores vermelhos
que chovem a doença e a violência sobre nossas cabeças afetadas
Trazendo a guerra de outros estados.
Como uma cortina de fumaça,
penumbra dos novos ares,
que avança cobrindo a luz.
Ímpares impactos
que deixam
– apenas –
marcas.
Creio que o pior é quando passa
Quando podemos sair da caverna
do conforto febril
E visitar o seio ardente da desgraça
da Mãe que chora lágrimas de vida
Por não poder nos aguentar.
O homem
– blindado de uma convicção patológica – ,
Tentando entender o porquê,
Procura falsas explicações nas utopias mais distantes
Inventa modos , novas maneiras …
Nada disso é de verdade
Tudo faz parte do mecanismo do conforto
Do alívio imediato
Para estancar uma dor primitiva
Causada pelo próprio.
Mas não importa
Nossas vidas são um crime que não ficará impune
Uma doença a ser tratada
e expelida pelo próprio organismo …
A natureza nunca nos perdoará
Contemplado pela Lei Aldir Blanc 2020 do município de Jundiaí-SP, o livro “registros de um casulo antropofágico” – digital e totalmente gratuito – traz uma seleção de escritos que são desenvolvidos desde 2017 por O Rei Ricardo Coração de Leão. Tratam-se de registros pessoais que, de forma íntima, revelam uma percepção solitária do mundo.
As produções partem de um lugar intuitivo, que ao mesmo tempo reflete suas inspirações ligadas ao romantismo, seu caráter individualista, sentimentalista e solitário.
Procurando potencializar e ressignificar em outros formatos essa poética, a solidão do autor encontra a solidão de Maria João, artista visual que apresenta suas criações principalmente na ilustração. O quotidiano, a solitude, o sentimentalismo e a fragilidade são elementos também presentes nas produções da artista que, de forma íntima e minimalista, comunica em seus desenhos os pensamentos de seu coração.
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Ficha Técnica:
escritos O REI RICARDO CORAÇÃO DE LEÃO
ilustrações MARIANA SANTA MARIA JOÃO
produção executiva LETÍCIA ROSA
diagramação e design FELIPE LIMA