No Dia Nacional do Maracatu, relembrando o seu primeiro registro fonográfico Revista Kuruma'tá, 1 de agosto de 20222 de agosto de 2022 Por Luiz Ribeiro Fonseca Dona Santa, rainha do Maracatu Elefante, em um retratodo acervo da Fundação Joaquim Nabuco No dia 01 de Agosto, celebramos o Dia Nacional do Maracatu, símbolo tão importante da identidade brasileira. Essa manifestação de matrizes africanas se dá principalmente no estado de Pernambuco, e é dividida entre Maracatu de Baque Virado, mais tradicional, e Maracatu de Baque Solto, criado por grupos nascidos no interior do estado no início do século XX. Derivada da coroação dos reis do Congo do século XVIII e das cerimônias do Xangô e da Jurema, o Maracatu desfila nas ruas de carnaval do Recife ao som de instrumentos como o gonguê e a alfaia, compondo uma orquestra percussiva que costuma se apresentar com mais de 30 músicos e apresenta, dentre outras figuras, o Caboclo de Lança e a Calunga. Entretanto, o primeiro – e pouquíssimo discutido – registro fonográfico da manifestação, a canção homônima “Maracatu”, se deu a partir de uma instrumentação composta apenas por piano e voz: gravada nos estúdios da Odeon, no Rio de Janeiro, em 1929, a canção foi composta pelo maestro pernambucano Waldemar de Oliveira a partir de um poema de Ascenso Ferreira. Com estrofes que narram o longo e violento processo de tráfico de escravizados sob o ponto de vista dos próprios oprimidos, a gravação foi executada pelo piano sincopado de Nelson Ferreira – que se destacaria futuramente como um exímio compositor de frevo – e pela soprano Alda Verona, que entoava: “Luanda, Luanda, onde estou? Luanda, Luanda, onde está?”. “Maracatu” evoca também a potência das musicalidades negras no Brasil, destacando os “batuques de ingonos” e as “cantigas de banzo” das toadas maracatuzeiras que se tornariam parte da identidade pernambucana. Como resultado do encontro, a obra torna-se parte do recital de Verona – também conhecida como Celeste Brandão – no consagrado Teatro Santa Isabel, localizado na capital pernambucana. Nelson Ferreira, um dos responsáveis por levar o Maracatu para a Odeon. Em 2014, cerca de 85 anos depois da primeira gravação do gênero, o Maracatu de Baque Virado foi alçado à categoria de Patrimônio Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Posteriormente, a partir da PL 397/2019, instituiu-se o 01 de Agosto como o dia nacional do Maracatu. Dessa maneira, relembrar a obra de Ascenso Ferreira e Waldemar de Oliveira – que ainda seria regravada por Alceu Valença no álbum Cavalo de Pau (1982) – significa resgatar um pequeno retrato que evoca o processo de diáspora africana e marca as primeiras relações entre as musicalidades negras e a indústria fonográfica ao longo do século XX. Encontre “Maracatu” nas versões de 1929 e 1982. Luiz Ribeiro Fonseca é jornalista e mestrando em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF). Pesquisa fonogramas de maracatu gravados na primeira metade do século XX. A CongoIPHANMaracatuNelson FerreiraOdeonRecifeXangô