Texto de Jorge LZ / Programa na Ponta da Agulha
No final de semana passado consegui finalmente rever o Carne Doce ao vivo e a experiência foi emocionante… emocionante, pois a minha história com o grupo começou anos atrás… precisamente em 2013…
O Festival Levada começou em 2012 e desde o início assino a curadoria. Uma tarefa espinhosa diante da quantidade de bons trabalhos que surgem de todos os cantos do Brasil. Não há como não cometer injustiças, sendo assim, muita gente que tem tudo para estar entre os escolhidos acaba ficando de fora.Uma das características que marcam o Levada é a busca por alguns nomes que estejam no início de carreira e, melhor ainda, se nunca tiverem tocado no Rio… e é aí que coisa fica interessante, pois é preciso vasculhar e estar atento à movimentação numa área que ainda não tem muita visibilidade.
Em 2013, o Levada chegava em sua segunda edição e, para atender umas das demandas do festival, que era a de trazer pelo menos um artista de cada uma das cinco regiões do país, eu estava engatado no Centro Oeste, pois ainda não tinha achado o nome que ocuparia essa vaga. Numa noite de sábado, estava eu no Circo Voador para ver um show de quem já não me lembro, quando encontrei Otaner que, junto com Fábio Fernandes e agora com Pedro Montenegro, cuida de um dos sites culturais mais bacanas que conheço, o La Cumbuca. Papo vai, papo vem, digo a ele que estou tentando fechar a grade do Levada, mas ainda não tinha o nome do Centro Oeste….Otaner rapidamente falou “você precisa ouvir um grupo de Goiânia, chamado Carne Doce”. No dia seguinte, abri o computador e comecei a procurar pela dica que havia recebido… naquela época a internet, perto do que é hoje, era mato, mas consegui achar uma página do grupo no Soundcloud. Por lá tinham poucas músicas… o Carne Doce tinha apenas um EP com seis faixas… consegui um email, que logo virou um telefone, e lá estava eu conversando com Salma sobre a possibilidade do Carne Doce participar do Levada para lançar o tal EP. Logo depois conversei com Macloys, que me disse que a primeira apresentação no Levada seria o quarto show do grupo… isso tudo foi em junho e, quatro meses depois, dia 11 de outubro, eu estava sentado na primeira fila do Teatro Oi Futuro de Ipanema, de frente para Salma e Macloys, vendo uma apresentação que foi além das minhas expectativas. Fiquei arrebatado pelos textos, pelas texturas, pelos arranjos, pela performance do grupo e, em especial por Salma e Macloys. Tenho até hoje guardado, e devidamente autografado pelos dois, o EP Dos namorados, que foi lançado na ocasião. Dias depois do show, mandei uma mensagem de agradecimento ao Macloys e fui respondido com um texto, que é um dos melhores presentes que já recebi e que guardo impresso com muito carinho.
Passado esse episódio, como eu já imaginava, o Carne Doce foi crescendo e conquistando cada vez mais espaço no cenário musical, passando por todos os grandes festivais do Brasil. Veio o primeiro álbum, Carne Doce (2014), com a nova formação, que se mantém até hoje e que é fundamental para a excelência do trabalho realizado. Somaram-se à Voz de Salma e à Guitarra de Macloys, o baixo de Aderson Maia e a guitarra e o sintetizador de João Victor Santana, que também é o produtor de todos os álbuns do grupo.
Princesa foi lançado em 2016 e o impacto foi impressionante. As músicas foram todas devoradas pelo público, que as cantou em uníssono nas apresentações do grupo, com destaque para Princesa, Artemísia e Falo.
Em 2018 chegou Tônus, terceiro álbum que atesta uma avanço do Carne Doce em todos os sentidos…. as composições estão mais densas, a sonoridade está mais elaborada, mais bem trabalhada, o grupo cada vez mais coeso e Salma canta ainda melhor que nos trabalhos anteriores. Princesa e Tônus ganharam belas versões em vinil, dando ainda mais brilho ao trabalho do Carne Doce…
Depois dos dois shows no Festival Levada de 2013, o Carne Doce esteve no Rio diversas vezes, mas sempre algo acontecia e eu não conseguia estar presente. Reencontrei pessoalmente com Macloys duas vezes… a primeira, quando ele participou do Radar, programa que eu apresentava ao lado da minha querida parceira e amiga, Julianna Sá; e outra, quando fui pegar com ele o vinil de Princesa no saguão de um hotel onde estava hospedado… no mês passado, ele e Salma gravaram, à distância, uma participação para o NA PONTA DA AGULHA… o contato existia, mas estava difícil de quebrar o feitiço que me impedia de assistir a banda ao vivo… até que há duas semanas, Macloys convidou-me para uma apresentação do Carne Doce, no Rio, que aconteceria no final de semana passado. Finalmente o feitiço foi quebrado e lá estava eu na segunda fila, coincidentemente, logo atrás do Fábio “La Cumbuca” Fernandes. O grupo subiu ao palco, teve paciência para lidar com os problemas técnicos que não deixavam o som engrenar para a entrada de Salma e, uma vez equacionados os problemas, o que vi foi uma apresentação contagiante, muito parecida e ao mesmo tempo muito diferente do que eu havia visto anos antes. Parecida na garra e no profissionalismo; diferente na postura e na desenvoltura de artistas que cresceram e se tornaram ainda melhores. O palco cresceu, o som cresceu, o Carne Doce cresceu. E eu, seis anos depois, sinto-me um privilegiado de conhecer esse trabalho desde o início… e falando em início, segundo me disse Macloys, quando participou do Radar, o show do Levada não foi o quarto, mas o primeiro… ele e Salma, que haviam gravado o EP Dos Namorados, formaram o grupo atendendo o convite para participarem do festival, o que torna meu laço afetivo com o grupo ainda mais estreito.
Na ponta da agulha é um site parceiro do Kuruma’tá! Jorge LZ produz e apresenta o programa na Ponta da Agulha, na Rádio Graviola. Confira: napontadaagulha.ml