Os seus sonhos ainda vão despertar contigo Revista Kuruma'tá, 11 de setembro de 201930 de dezembro de 2019 Dia de sol no Rio de Janeiro, andando por aí acabei encontrando com o amigo e colaborador fiel da Kuruma’tá, Eduardo Frota. Sentamos num bar para papear rapidamente e ele me deu aquela boa notícia que eu amo escutar: Tem texto novo lá no Drive. Outra coisa boa que ele me falou é que andava sonhando muito. E os sonhos, como todo mundo sabe, tendem a se misturar com a realidade. Encontrei mesmo com ele ou terei sonhado? Não sei, mas o texto estava no Drive. E agora está aqui para você, na Revista Kuruma’tá. Toinho Castro (Editor) Texto de Eduardo Frota I Olavo sonhou que era um escravo. Trabalhava em uma plantação de milho no sul dos Estados Unidos. Observou um trem distante apitar e começou a correr, aos gritos. Convocou os colegas. A liberdade se abria a léguas daquele lugar. Ainda munido de um punhado de espigas, conseguiu alcançar a última composição. Para trás ficava o senhorio e o chão. (acordou e foi fazer pipoca) II Inês sonhou que vivia numa antiga cidadela do império chinês. Vestia um roupão pesado e fazia chá a homens de negócio inescrupulosos e amargos. Doíam-lhe os ombros, a coluna, os joelhos – todos os ossos. Deixou cair a xícara no tatame, olhou para o inverno que se desenhava lá fora e pensou por um instante. O que era intenção, virou ação. Saiu apenas de roupa de baixo para nunca mais preparar nenhuma infusão. (acordou e foi preparar café) III Janaina sonhou que era uma bailarina. Dançava uma música da qual não gostava, mas assim fazia porque era obrigada. Bailava com um par que não era do seu gosto. Foi então que pisou no pé do moço. Espantado, ele pediu para parar a dança. Ela, feito criança, deixou com que os pés lhe guiassem por outro ritmo. Agora, expressava-se de acordo com o que lhe era mais íntimo. Com o tempo, acabou achando um par ideal, com quem dançou uma salsa. Pois bem: valsa, nunca mais. (acordou ao som de um rock) IV Jorge sonhou que era um lorde. Desses, ingleses. Compromissos, reuniões. Sentia que tudo isso não passava de jogo de interesse. Estava cansado, aflito, farto. Resolveu, então, sair do castelo e andar feito indigente. Conheceu, nos braços de uma plebeia, o amor de verdade, diligente. Se desfez do fraque, da gravata e do capote. Descobriu que era isso o que sempre quis. Era agora um homem de sorte. (acordou e foi jogar na loteria) A ContoEduardo FrotaEncontrosFicçãoLeituraLiteraturaSonhos