Texto de Eduardo Frota
Entrou no mar com os dois pulmões cheios de ar, o direito e o esquerdo, um tanto sôfrego, à procura do amor. A primeira onda farfalhou pelo corpo e afagou a alma. A segunda o atingiu violentamente no rosto, como uma bofetada. A terceira o cobriu por inteiro, da cabeça aos pés, afogou a alma. Não havia mais horizonte.
Ele agora flutuava no espaço.
Bateu as pernas cansadas e mergulhou rumo ao fundo do mar como se filho de peixe fosse, com os dois olhos bem abertos e muito ardidos pelo sal que queima. O sol que teima em ficar brilhando lá em cima. Queria ter guelras, queria ter escamas, queria encher o peito e gritar por ela….
— …
Procurou-a por entre os peixes, por entre os poucos feixes de luz refratados que iluminavam o lugar, desabitado. Braçadas encurtadas, pernadas alongadas, coração violentamente sobressaltado.
Encontrou-a onde a correnteza fazia a curva, em meio à água já turva. Uniu-se a ela em um ósculo inevitável. Os dois pulmões cheios de mar, o direito e o esquerdo, sem fôlego, à procura do amor.
Ele agora flutuava no espaço.