Texto e poema de Toinho Castro
Hoje é aniversário de Gilberto Gil, esse artista central na nossa cultura, central na nossa vida porque é a conexão de tantos caminhos, de tantas linhagens e vozes. A generosidade do seu talento luminoso é um abre-alas… fico aqui pensando em tantas portas que Gil abriu pra gente, das tantas direções para onde sua voz apontou e para onde seguimos sem medo, com fé! A música negra e universal de Gil está cravada em nossos corações, e por isso resistimos e marcamos essa linha divisória, que separa a vida de todo o resto que é contra ela. Gil é nosso marco afirmativo. A canção cantada por nós, mirando o amanhecer.
Há tempos escrevi para ele esse poema, que já circulava nas redes sociais e que de tempos em tempos recupero para pontuar a grandeza desse artista. Hoje o oficializo aqui na Kuruma’tá, como poema dedicado a quem comungar com essa fé.
Gilberto Passos Gil Moreira
esse nome que é um verso
quase uma poesia inteira
outro dia ouvi você cantar
aquela canção da menina baiana
num velho disco de vinil
que ressoou na minha
caixa craniana
me convidando pra dançar
deixando-me febril
e lá fui eu para lá
para além do ano 2000
e não me contive de alegria
por sua música profunda
que a tudo alumia e inunda
não me contive onde eu estava
em quem eu sou
e saí pela rua a todo vapor
e pensei em você
menino baiano de salvador
pisando as pedras do calçamento
sujeito ao encantamento
da Bahia e da Nação
para fazer da própria música o pão
para reparti-la com os irmãos
escuto aquela canção
da menina baiana
do menino negro de salvador
atomizado na raiz do cabelo
no dna de raiz africana
na raiz da macaxeira
menino que se chama um verso
— Gilberto Passos Gil Moreira
corre, menino
corre que amanhã é dia de luta
corre que amanhã é dia de feira
Obrigado, Gil. Você foi um dos meus professores de poesia.