O Luiz Gonzaga que eu vi Revista Kuruma'tá, 13 de dezembro de 20203 de fevereiro de 2022 Texto de Toinho Castro Cruzei caminhos com Luiz Gonzaga duas vezes. Certa vez, quando criança, passeava no Aeroporto dos Guararapes com minha mãe, passeio de domingo, lanche no Café Palheta e aviões subindo e descendo, carregados de gentes e histórias. Gostava de paquerar os carrinhos da Matchbox numa vitrine, e não poucas vezes saí de lá com uma daquelas pequenas joias, na época, feitas de metal, pesados na mão. Lembro que caminhávamos pelo longo saguão do aeroporto, talvez carregando um Matchbox, e quando passamos pela escadaria que levava ao segundo piso, que abrigava, creio, um restaurante, e depois, num futuro próximo dali, máquinas de fliperama, vimos um homem sentado nos degraus numa conversa animada. Um homem que, de alguma maneira me lembrou meu pai. Era Luiz Gonzaga, cercado de alguns amigos a contar causos. Espantei-me. Lá estava uma celebridade. Não usávamos esse termo. Mas era como se eu estivesse vendo Frank Sinatra, ou Elvis Presley. Era Luiz Gonzaga, vestido a paisana, sem gibão ou chapéu de couro. Uma camisa de botões, manga curta, quadriculada, de cores apagadas, uma calça de tergal. Não paramos para cumprimentá-lo. Minha mãe apenas comentou que era ele e seguimos caminhos. Não escuto uma única vez a voz de Gonzagão sem lembrar dessa imagem. A segunda vez foi quando o cortejo carregando seu corpo, sobre um caminhão do Corpo de Bombeiros, assim recordo, passou na Imbiribeira. Não lembro se indo ou vindo do mesmo aeroporto o o vi anos atrás. Fomos ver sua passagem para outros sertões. Luiz Gonzaga nasceu num 13 de dezembro de 1912, em Exu, sertão pernambucano. Nasci 54 anos depois, em Natal, no litoral do Rio Grande do Norte. Hoje, morando no Rio de Janeiro, tanto anos depois, minha vida ainda se liga à dele e suas cantigas, à memória desses dois encontros que narrei, às noites de São João e aos balões subindo no céu. A ExuLuiz GonzagaMemóriaMúsicaMúsica BrasileiraRecifeSertão