Poemas de Franck Santos Revista Kuruma'tá, 17 de março de 202117 de março de 2021 A Revista Kuruma’tá é um porto onde chegam poemas. E hoje recebemos o poeta Franck Santos, um libriano com ascendente em peixes, 50 anos, ilhado em São Luís do Maranhão. Franck em 5 livros publicados. Breve, sairá pela Editora Primata o ‘Prefiro regar as plantas’, livro de poemas. Franck, seja muito bem-vindo à Kuruma’tá! E nós, vamos ler esses poemas, iluminando esses dias de quarentena e luto que nosso Brasil atravessa. Dica: Entrevista de Franck Santos para o site Como eu Escrevo, do caríssimo José Nunes! Este tempo é de coisas que nos deformamComo seres das espécies pelágicasVivemos acima dos sedimentosMas ainda há pele tua sobre os lençóis, nos discos acumulados, nas fotografias, nos meus dentes.Seremos sempre deslocados na geografiaComo a cicatriz que deixaste, como uma tatuagem, uma explosão, uma catástrofe,O lobo que fugiu da sua alcateiaE guardei no pulmão.Das viagens guardo recordações que agora vão preenchendo as paredesQuase como a massa de água dos oceanosMas ainda compro flores, ameixas, melancias, morangos e tangerinas,Antes que a esperança não seja só o calendárioO verão vá embora e leve esse cheiro de chuva e maracujá dos nossos corpos.Para não morrer tantoDeixarei acesa a lâmpada do corredorDoce de caju na geladeiraTudo que é de algodão nos armários do quarto Nossa serenidade sem paralelo. Aos 14 anos ele disse que apagou seu rosto de todas as fotografias dos álbuns de casa.[ Aos 25 anos, o que mudou nos seus traços: O sorriso?Algum sinal de nascença?As marcas de expressão?Alguma cicatriz?Os óculos? ]Seu rosto é o mesmoou de vez em quando pega em tesouras, lâminas, canivetes, estiletes, facas,e ainda brinca de cirurgião? prefiro regar as plantas: Leio que Marte e Saturno estão se alinhando no céuQue Júpiter está cada dia mais próximo.Penso que enquanto os planetas se conectamNos hemisférios tudo é vermelhoDeito no chão da casa quase em desespero e sinto falta de um dia de janeiroQuando fazíamos coisas mais divertidas.Nestes dias de tédio e readaptar-se a casaTrajetos curtosRepetir assuntos por telefoneOlho a planta baixa da cidadeAs rosas que desabrocham no jardimE prefiro regar as plantasMesmo que a loja de discos fechePorque do Sul um amigo canta Maria Bethânia pra mimRecita um poema Enquanto as vozes silenciam no rádio e na vizinhançaE nos permitimos pequenas fugas. viagens por cidades distantes: Aquelas noitesno calor da nossa intimidadeBrilhamos como um farol.Ardemos como Alexandria.Na parede do quartoum Atlas nos contemplava. Cotidiano 3: Entre vodca e ginEle preferia cachaçaE longas tardes na praia, sem mim. A MaranhãoPoesiaSão Luiz