Texto de Eduardo Frota
O mundo acaba hoje – disse o profeta.
E aqui na Terra, em toda a superfície dessa rocha errante, os viventes desligaram seus aparelhos celulares pela primeira vez. Era um dia quente, excruciantemente quente. Com as palmas suadas, porém desocupadas, puderam todos estender a mão a quem ao lado estivesse. Para variar, deixamos para nos preocupar com tudo na última hora, no último suspiro. Não é possível que partiremos sem respostas. Não explicamos de onde viemos e nem para onde vamos. Se somos apenas uma ínfima peça integrante de um joguete preso à gravidade ou se somos uma ridícula raça fadada a mandar pelo opressivo e vasto espaço inúteis sondas e foguetes.
Vamos embora sem respostas? – insistiu um humano.
É estranho, injusto e até tacanho termos tentado com tanto afinco fazer contato com outras civilizações e acabarmos com o intento malogrado. Tudo, absolutamente tudo o que ouvimos foram ruídos, chiados e radiação de fundo. Buscamos fora do limite dos olhos, bem além dos nossos limítrofes sonhos, sociedades mais inteligentes. Obviamente, tão diferentes da gente, já que falhamos assombrosamente em usar a pouca capacidade que temos, na qualidade de mamíferos bípedes com encéfalo desenvolvido, de andar para frente.
Nós enviamos sinais pedindo respostas – alegou um cientista.
Ele insistia, mas ninguém dava crédito, era o que parecia. A era das trevas fundou uma realidade brutal. Odiava-se a ciência, amava-se a onisciência episcopal. Tentamos via imagem, som, música, verso. Nada. Mas fizemos o melhor, decerto.
Me dá um trocado? – pediu um mendigo.
Pobres e ricos, na hora do desfecho serão todos reduzidos a pó, em montes de cinzas da mesma cor. Serão varridos feito indigentes sem um pingo de cumplicidade, carisma ou amor. Para dizer a verdade, camaradas, mal conseguimos estabelecer uma conexão com nossos semelhantes, cujas diminutas diferenças jazem em microscópicas e reluzentes moléculas de ácido desoxirribonucleico.
E como vai ser?
O profeta provavelmente era o único que estava certo, como esteve em centenas de milhares de outras vezes. Até o cataclismo, seguiremos presos ao baile cósmico sem saber dançá-lo, pisando nos pés uns dos outros, burilando cinismo, sem perceber que a flecha do tempo segue adiante.
O anonimato cósmico talvez seja uma saída digna. Podemos todos fechar os olhos.