O mar da História é manchado

Com o óleo manchando as águas claras, cristalinas, as águas verdes e mornas do Nordeste, a Revista Kuruma’tá não pode ficar calada. A gente fica inquieto, agoniado, longe que estamos daquele litoral que se estende do Maranhão à Bahia. Resta-nos a palavra, pois como logo diz o mestre Nonato Gurgel nos poemas que aqui e agora apresentamos, nada mais político que falar. Então a gente fala. A gente fala no vento que sopra para aquelas bandas, a gente sopra contra a corrente do óleo que avança. Palavra é sopro.

Poemas de Nonato Gurgel


Foto de Toinho Castro – Mar do Rio Grande do Norte

I – Nada mais político do que falar

Desde o final de agosto
ventos e ondas arrastam
manchas escuras pelas praias
dos nove estados do Nordeste

São manchas que se deslocam
manchas que voltam revoltam
manchas que partem repartem
dão cria a manchas menores

Pedras de óleos também são vistas
tartarugas e peixes morrem
barris amarelos boiam
no verde azul do alto mar

Venezuela e Shell na jogada?
o real chapa hum mas se um
muito estranho 194 localidades
o que dizem os silêncios da Marinha?

II – Nada mais político do que limpar

Numa torrente coletiva
moradores e voluntários
da Praia dos Carneiros
limparam 30 toneladas
de óleos

Até 20 de outubro
Pernambuco retirou
de suas praias
70 toneladas
de óleos

III – Nada mais

O ministro do meio ambiente sobrevoa
o crime ambiental que atinge
mais de 2 mil km da costa

Condenado por ações ambientais no Sudeste
o ministro sobrevoa mas não limpa
o óleo entre pedras praias vegetais

IV – Nada

Ele não
ele nada
ele sequer vê as manchas
ele vai viajar para longe
Tóquio Pequim Emirados

Ele extinguiu o Comitê contra os desastres por óleos?

V – Águas agitadas como os mares da História

Na noite das águas problemáticas
pescadores e marisqueiros narram
o óleo que a maré leva aos rios e cidades
Oito rios de Sergipe
12 cidades de Alagoas

Somem os turistas da foz
do São Francisco e Arembepe
Cabo de São Roque Maracajaú
Maragogi Costa dos Corais
Caraúbas Tamandaré

O Ministério Público acusa
de omissão o governo e pede
que seja acionado o Plano Nacional
de Contingência para incidentes
de poluição por óleo em águas