A névoa do cotidiano Revista Kuruma'tá, 15 de março de 202215 de março de 2022 A Kuruma’tá é casa da poesia. Versos nos chegam constantemente no inbox e isso, como já escrevemos antes, é de uma grande alegria. Dá noção de que a revista chega nas pessoas, chega em cada poeta que nos procura, que nos escreve. É chegada aa vez de Marcos Mamuth, poeta desde sempre, com três de seus poemas para iluminar nossas páginas. Seja bem-vindo, Marcos, com a qualidade inspiradora do seu trabalho poético! Poemas de Marcos Mamuth Ruptura (l) Eu,ao menos,me lembro de ti,e não permiti que a névoa do cotidiano escondesse de veznosso carinho profano,nossas risadas breves. Leves eram os teus passos sobre mim,e me fustigavas a pele do rosto,assim,de um jeito tão opostoao que aprendi sobre o amor…Havia graça doçura,dor. Havia noitesem que eu vagava insone,sem biografia,sem nome,procurando essa tua alma embrenhadaem caminhos perigosos Havia dias tristes e chuvososem que eu morava no ventreda agonia. Hoje, é só o teu vulto quem me olha,e com desdém.Eu o encarotambém. Pergunto a ele onde está o resto de ti que perdi. Não há resposta.Os dados rolam na estranha mesa revestida de cetim.A aposta foi feita,Perdemos. Fim?Sim. Ruptura (ll) Olho em direção à tua janela,e te presumo desatenta, diáfana e cruel atrás dela.Tão inalcansável e malditamente bela. Tão impassível,impalpável, volátile impossível. Aprecio agora nossa obra final,feita com sobras do que fomos.Ah, quanto imploramos para que não partíssemos. Essa insólita escultura de gelo criada com memórias, olhares encantados, carinho e beijos esquecidos agora será derretida pelo calor inclemente do verão. Logo não haverá mais nada,nem o menor traçodo que foi nossa cruzada. Fim?Sim. Elegia Aos Deuses Gentis Se soubessesem quantas noitesse esgueirou cruel a madrugada, em quantas camadasde delírio e memória desenhei nossa história… Quanto desejo e temorem amor transmutadoou coisa parecida,minha querida… O que teríamos sonhado,o que teríamos sidonessa coisa-vidaque julgávamos esquecida,só um louco saberia. Então,eu não te pediriamais do que um diaseguido de outro dia.E um beijocontornando a rota incertados teus quadris. Os deuses,por enquanto,por encanto,por um triz, cismaram de ser gentis.Como a gente,inocentemente, sempre quis. Marcos Mamuth Marcos Mamuth é também (des)conhecido como Marcos Alberto Taddeo Cipullo. Nasceu em São Paulo, no bairro da Mooca, em 1965. Guitarrista e compositor desde 1979.Psicólogo desde 1988.Escritor desde 1986.Professor universitário desde 1993; a partir de 2008, na Universidade Federal de São Paulo (Campus Baixada Santista). Poeta desde sempre. A Marcos MamuthPoesiaPoesia brasileira
Lindas suas poesias.mais que lindas pois não ficam impermeaveis no externo,penetram na alma e contam a história de cada ser humano.Delicias e agruras,alegrias e desespero. Responder